Convenhamos, menstruação só é recebida com sorrisos quando há suspeita de uma gravidez indesejada. Do contrário, é um tempo de privação para a maioria das mulheres. Eu, quase sempre, me abstinha de calças claras, sexo e alguns esportes. Medo de vazar, de aparecer o sangue. Sangue, na nossa cultura, não é coisa boa. Mas como todo conceito deve ser questionado e repensado, decidi encarar a menstruação com outros olhos. A tarefa não foi fácil, porque o ciclo vinha e lá ia eu botar a fraldinha... Eu NUNCA gostei de absorventes! Acho quente, volumoso (não importa quantos modelos diferentes eles inventem), deixa um cheiro forte (não importa quantos aromas eles coloquem) e, no final das contas, até a menopausa, são milhões de moedinhas gastas. No começo era “só” isso que me incomodava. Comecei a usar absorventes internos, passando a gastar mais moedinhas por mês. Aí um dia eu descobri que os absorventes internos podem deixar resíduos no nosso corpo e causar infecções. É verdade que naquela época eu tinha problemas com fungos com uma frequencia chateadora, mas não estava relacionando aquilo ao uso do absorvente.
E aí, para piorar a situação, um dia me dei conta do lixo que eu estava produzindo com os restos da minha menstruação. O que é o sangue, limpo e lindo, parte do nosso ciclo de vida, perto dos montes de plástico e algodão alvejado que enviamos mensalmente aos lixões?
Aí eu pensei em usar os absorventes ecológicos – versões bonitinhas dos paninhos que as vovós usavam – mas o problema do calor e do cheiro provavelmente continuaria... Sem falar no transtorno pra trocar em banheiros públicos. Há quem tenha se adaptado, mas eu achei que não resolveria de modo integral meu dilema, então confesso que nem tentei.
Foi quando, mexendo em um site sobre vegetarianismo, li uma reportagem sobre os coletores menstruais.
Copinhos de silicone que formam um vácuo e coletam o sangue.
- O material dos coletores é silicone médico, testado e aprovado. Não causa alergias. (Há alguns modelos de látex, mas pouca gente usa, porque, além de serem mais feiosos, podem causar alergia.)
- O sangue não entra em contato com o ar, logo, não oxida e não altera o pH vaginal.
- Ou seja, adeus fungos, bactérias e demais incômodos!
- São ecológicos e econômicos, pois, apesar de custarem em torno de 85,00, duram 10 anos (segundo recomendações dos fabricantes).
- Não ocupam espaço na bolsa!
- Podem ser usados por até 12 horas, dependendo do fluxo da mulher.
- Não precisa ser retirado para fazer xixi ou cocô.
- Não atrapalha a prática de esportes (inclusive aquáticos!).
- E, uma coisa que eu só descobri recentemente (me contaram, mas eu ainda não testei): possibilita um sexo oral limpinho!!
E os coletores funcionam na base do “lavou, tá novo”. Durante o ciclo, é só lavar com água corrente e, se quiser, sabonete neutro (tem que ser neutro!!). Ao final, você deixa ferver de 2 a 5 minutos e guarda num saquinho de tecido (que acompanha a maioria dos coletores) até o próximo ciclo.
Pronto, decidi que eu queria um coletor!
Aí foi que descobri que existem várias marcas no mercado internacional, e que os coletores existem desde 1930! Começou então a busca para escolher qual seria o meu coletor e, pra quem vai comprar, ficam as dicas:
Dependendo da marca, há variação no formato e no volume. Algumas marcas fazem coletores coloridos! Algumas fazem cabinhos variados (mas, no meu caso, eu cortei o cabinho todo, porque estava me cutucando – isso varia de mulher pra mulher). E um detalhe importante, na minha opinião, é que não tenham marcas ou escritos na superfície, para não juntar resíduo de sangue – alguns fabricantes colocam seu nome, ou site, ou números em alto relevo, o que pode dificultar a higiene do coletor. Outro detalhe é que a maioria das marcas possui dois ou mais tamanhos, um geralmente indicado para mulheres até 25 anos ou que não tiveram parto vaginal, e outro para mulheres acima de 25 anos ou que tiveram parto vaginal. A verdade é que isso não é bem assim. (Meu primeiro coletor foi um tamanho pequeno e eu tive vazamentos, então eu acho que é sempre melhor comprar o tamanho grande, até porque ele dura 10 anos e, nesse meio tempo, quem não teve filho ainda pode querer ter, ou simplesmente porque a diferença não é tão grande que possa ser notada pelo canal vaginal como um incômodo, mas é grande o suficiente para evitar vazamentos).
Bem, aí, pensando nisso tudo, e vendo comparações feitas por uma moça chamada Melissa, que parece que passa a vida testando coletores e facilitando a vida das novas usuárias, decidi que queria um LadyCup. Convenci mais 3 amigas a pedirem comigo, para dividir o frete, comprei, recebi sem problemas e adorei usar! Tive o problema com o vazamento durante dois ciclos, porque acabei ficando com um tamanho pequeno. Minhas amigas, que ficaram com tamanhos grandes, usaram, usam e amam! Depois pedi um tamanho grande e, logo depois engravidei! Ou seja, não usei tanto quanto gostaria, mas comecei a divulgar e a comprar para vender no Brasil, funcionando como um canal para as novas usuárias, tirando dúvidas, fazendo os pedidos (botando meu cartão de crédito na rede e me arriscando a ter que pagar tarifas alfandegárias... É um risco que sempre corro, mas ainda não tive problemas.) Comprar pela internet em sites estrangeiros é fácil, só precisa ter um cartão de crédito e fazer uma conta no PayPal.
O sangue agora tem outro aspecto, outra mensagem, outro cheiro. É a renovação do corpo, é um líquido rico em ferro e nutrientes, que pode ser diluído e usado para regar plantas – ainda não fiz, mas quem tem canteirinho em casa diz que elas renascem! O coletor me fez me relacionar com meu corpo de um modo diferente, compreendendo melhor a musculatura vaginal, perdendo o nojo do meu sangue, e me trazendo uma paz por saber que estou contribuindo com a limpeza do nosso planeta.
Depois dos coletores, entraram na minha vida as fraldas de pano: ecológicas, econômicas e saudáveis! Mas isso é assunto para um outro dia... ;)
Este texto foi escrito por mim para o site Mulher Esperta, em Agosto de 2010.
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